sexta-feira, 13 de junho de 2014

NASCIMENTO

                  Daria tudo para ouvir  novamente aquele riso fácil, tudo para ser novamente o centro das atenções, sentia falta de ser admirada simplesmente por existir, queria que de novo alguém respirasse seus sinais vitais, basicamente queria que ele estivesse ali agora, pois parecia que nunca antes sentira falta dele.
                  Viaja ao passado, onde ali sim era tratada como devia, toda devoção a ela direcionada,  lhe fazia, intimamente sentir-se vaidosa, não que semelhantes agrados lhe virassem a cabeça, antes ao contrário sempre facilmente os repelia, não o bastante para afastá-lo, pois nem sabia ainda que não saberia viver sem ele ou melhor sem eles.
                   Era consumida com a terrível  constatação de que por mais que se esforçasse, ninguém se dedicará a ela tanto quanto esse cavaleiro de rota armadura, cavalgando seu débil Rocinante. Todos os cavaleiros de armaduras brilhantes, montados em seus belos alazões, simplesmente não lhe prestavam as devidas homenagens, não degustavam cada um de seus sorrisos, não sabiam se enebriar no ópio que era seu perfume, não a faziam se sentir como nosso Dom Quixote um dia a fizera, parecia que nem mesmo sabiam de todo o valor de tal Dulcineia.
                  Não entendia o paradoxo desse fato, como antes, quando resistia ao nosso anti herói, recebia do mesmo toda a adoração e dedicação devidas, como aquele que sempre rejeitara era quem fazia de tudo para agradá-la, porque aqueles heróis de fato ao quais escolhera para amantes nunca a fizeram sentir-se como ele fizera.
                 Por mais que ela fizesse, nenhum príncipe encantado lhe percebera perfeita como o nosso anti herói. Nenhum deles cantava alto esperando que ela de alguma forma o ouvisse, nenhum sonhava com um beijo e se arrepiava de pensar nisso, nenhum se esforçava para lhe fazer sorrir e se sentia completo quando conseguia atingir semelhante feito, nem sequer um deles por um momento estava desposto a fazer qualquer coisa por ela, Dom Quixote, em seus olhos, não via Dulcineia, em seus olhos via o amor, via beleza em outras flores? sim , mas o amor somente nos olhos de sua doce Dulcineia.
                E era disso que ela sentia falta, percebera tarde demais tal coisa,  não sabia responder o porquê de não estar ao lado dele, que tanto a fizera se sentir bem, sabe somente que está saudosa de tais complementos. De início procura sempre por ele em outros sapatos, esperançosa de encontrar novamente seu antigo amor.
                Tentou por vezes, procurou, buscou, até investigou, mas por fim lhe sobrou a resignação, percebera que cada amor se revela de uma forma e que se não vivemos esse amor, o perdemos, nada o trará de volta, cansou por isso de sua interminável busca, jamais novamente ouviria aquela bela música, precisava olhar para frente, com aquele estranho vazio de não ter vivido, começou a sentir frio e morreu! Morreu um pouco para nascer de novo, um novo nascimento para começar uma nova história, longe de Dom, que agora deve estar a caçar belos moinhos de ventos em cima de seu Rocinante.